segunda-feira, 20 de abril de 2009




















Sou o resultado das desventuras que o amor me causou, mesmo não acreditando na idiossincrasia que esse sentimento traz, fui. Tentei caminhar ileso, feito a areia que se recompõe depois da onda e descobri de muitas formas diferentes que não sou imune ao amar, ao querer bem.
E mesmo munido dessa certeza afirmo, o amor meloso e gentil que pregavam os românticos não existe, não creio na vivacidade de algo que não cause a dicotomia no ser, a fúria e o prazer, o zelo e o abandonar a esmo o ser-objeto de nosso anacrônico sentir.
Fui visto como transgressor do sentimento mitológico, o querer puro e imaculado, como o amor dos santos, o sentir apenas contemplando.
Esse sentimento brando, quase oração, uma espécie de relação mortal-deus, foi criado e consolidado socialmente para facilitar o pensamento e a vida dos que não têm tempo e nem força suficiente para entender que o mundo é feito de caos e desordem, assim como o ser e suas relações.
O sentimento que preconizo não visa arrancar corações em adoração, trago-o tão calado em mim, que por vezes até eu duvido de sua existência.
Silencia diante da pretensão de ser idolatrado e ovacionado como que se viver fosse tão somente um ato diário de amar e não a luta e a construção de ideais diferentes sob quereres tão próprios quanto lascivos e ter aquele que é alvo de sua admiração dividindo a dor e a luxúria de uma vida em comum, enquanto amantes.
Sem idealizar cor dos olhos, biotipo e credos, pois isso dificultaria ainda mais qualquer partilha.
Sou resultado das desventuras e alegrias breves que o amor me causou.




pintura de Dora Carrinton