sexta-feira, 22 de março de 2013

ode ao não (da série ecos de Maldoror)*




quem me dera ter as palavras certas
para retratar esse ser aturdido
dono do ego magoado que marca
os cantos alheios

poderia sonhar a esperança
mansa de liberdade
não, não mesmo
jaz aqui qualquer cegueira

peço que não blasfeme a realidade
ou a pontue com mesmices amadoras
ou coloque em minha pele
ignorâncias amenas e gentis

houve o momento para a ilusão maior
hoje ela titubeia como as luzes dessas velas
acesas, quentes, mas ao mesmo tão inocentes
diante da vasta sombra universal

essa que equilibra a dicotomia
dos sonetos móveis e patéticos
das paixões que sangram
do movimento vão de viver

vejo claramente seus lábios delineados da negrura
como se tivesse beijado de língua o infinito
enquanto o desespero enrabava meus sonhos

agora o estar se desespera
sob as lentes escuras
que refletem a incógnita ironia
nesse estado de fato febril

sim, dessas mãos só espero o tapa
a punhalada e o soco
em suma, a traição
pois a carícia real é a que causa dor

e esse transpirar ocre quase esverdeado
é o que nos benze de sanidade
abra bem os sentires e aceite
que o olho esquerdo
é o que move a redenção





*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem, inspirar o poema e me apresentar Isidore Ducasse



Um comentário:

André Foltran disse...

"Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?"

(Carlos Drummond de Andrade)