quem me dera ter as palavras certas
para retratar esse ser aturdido
dono do ego magoado que marca
os cantos alheios
poderia sonhar a esperança
mansa de liberdade
não, não mesmo
jaz aqui qualquer cegueira
peço que não blasfeme a realidade
ou a pontue com mesmices amadoras
ou coloque em minha pele
ignorâncias amenas e gentis
houve o momento para a ilusão maior
hoje ela titubeia como as luzes dessas velas
acesas, quentes, mas ao mesmo tão inocentes
diante da vasta sombra universal
essa que equilibra a dicotomia
dos sonetos móveis e patéticos
das paixões que sangram
do movimento vão de viver
vejo claramente seus lábios delineados da negrura
como se tivesse beijado de língua o infinito
enquanto o desespero enrabava meus sonhos
agora o estar se desespera
sob as lentes escuras
que refletem a incógnita ironia
nesse estado de fato febril
sim, dessas mãos só espero o tapa
a punhalada e o soco
em suma, a traição
pois a carícia real é a que causa dor
e esse transpirar ocre quase esverdeado
é o que nos benze de sanidade
abra bem os sentires e aceite
que o olho esquerdo
é o que move a redenção
*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem, inspirar o poema e me apresentar Isidore Ducasse
Um comentário:
"Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?"
(Carlos Drummond de Andrade)
Postar um comentário