domingo, 7 de novembro de 2010
abstrato
estou frágil e me engano
tantas são as cores
que pincelam a ilusão
que é fácil baixar a guarda
minha capital é caos
nalguma falésia sua
desse veneno que comunguei
mil vezes comigo
pouco me resta
e agora me alimenta
imperfeito é o futuro
nessa minha retórica-farsa
parca e insuficiente
mas é o que ainda me sustenta
não tema meu coração
ou minhas dores profundas
não maldiga meu passado
que me fez assim
sou completa no pretérito
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fotografia Sindri Mendes,
Larissa Marques
sábado, 9 de outubro de 2010
alvorece
na penumbra quase luz
os cabelos negros
notívagos se vão
deixando a aurora
deitada na marina
ao som do mar
chegou-me menino
e vai embora
sem se explicar
não precisa dizer
mesmo que eu chore
sabe que eu sei
deu-me o seu melhor
o bem e o mal maior
nessa loucura que nos atinge
com fúria e mais querer
nos faz libertos
presos nesse laço efêmero
deixa-me que tudo
está calmo agora
o mar de meus olhos flutua
amanhece lá fora
e seu sol suado e nu brilha
entre todos os meus lábios
quero seu olho no meu
esse misto de solidão
e cura
segunda-feira, 5 de abril de 2010
transfiguração de realidade
terça-feira, 2 de março de 2010
Equador
Se Henry Miller se calasse e sua boca se enchesse de formigas antes mesmo de se mostrar um exímio amante, não me refestelaria com os belíssimos trópicos que ele declinou tão bem.
Minhas expectativas nunca ultrapassaram o Trópico de Câncer, nem o de Capricórnio, elas se equilibraram tal qual o Equador.
Não me compararia a Miller nem ao relatar o menor suspiro de desejo intenso, nem ao menos numa linha do pós-guerra, mas humana que sou, estou tomada de febre do meio.
Poderiam dizer que é a febre dos trinta e cinco, que é o frisson da idade e eu poderia discordar dizendo que é além disso. Mas é, caro leitor, a minha palavra contra a sua, nem sei se tenho argumentos para convencê-lo do contrário.
Guardei por anos um silêncio pesado entre a leveza de devaneios e gozos mais íntimos. Não soube me expressar bem. Prendi-me por motivos errados e continuo cedendo ao que a boca cala e o corpo rasga. Equilibro-me entre fazer o que quero com o que esperam de mim, um exemplo plausível de Equador Perfeito.
Nego ser uma queda de braços, ou uma luta de boxe, embora me sinta nocauteada, é uma guerra de mãos e mesmo que pareça que uma quer sustentar a outra, evitando a queda, não há força suficiente para sustentar o desencanto preso entre os dedos da esperança. A fé é fraca e com tão pouca resistência a tarefa de segurar uma das partes vai se tornando cada vez mais árdua, cada vez mais perdida.
Equatoriais meus verbos secam no pretérito perfeito do subjuntivo e eu intransitivo-me.
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