segunda-feira, 22 de julho de 2013

eterno velar (da série "ecos de Maldoror")*



tocou-me com suas palavras
e seu hálito nefasto
incitou-me tormentas adormecidas
e as horas se esqueceram
do tempo e viraram prurido

apesar de tantas mortes por fumo
apesar de tantas dores sem prumo
perpetuamos essa saga mórbida
um velando o outro

o verbo permanece ferindo
meu silêncio quase falo de ruínas
quase sufoco ao ponderar no escuro

desde então vivo na fraqueza
desde então sou a miséria
espelhos queimando
um na fogueira do outro

pobres almas espelhadas





*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem e me apresentar Isidore Ducasse

quarta-feira, 22 de maio de 2013

venha pelas minhas botas (da série "ecos de Maldoror)*



estou tão perdido
ao despertar
caminha pelo veto
me cansei de esperas
e do morno grito
quando algo se desfaz

as flechas inimigas
só fazem derrubar
o que não tenho
e acreditam me atingir
se a faca das nuvens não afeta
possuídos impunes
quem sou eu para me rebelar?

venha pelo vivenciar cúmulos
pelo praguejar de deuses
não encontro textura dos beijos
nas desistências colecionadas
entre as meias finas furadas
e sem aspas o desespero inexiste

vê que estou aqui a salvo
mesmo que as harpas
toquem sinais de morte
isso é placebo para o veneno
rendez-vous para desavisados
festa aberta para doidivanas

é tanto e pouco na tortura
que no encolher do verso
a nervura reclama aflita
amai o tóxico como a ti
mesmo.






*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem, inspirar o poema e me apresentar Isidore Ducasse

segunda-feira, 22 de abril de 2013

alma costurada (da série ecos de Maldoror)*



devia saber desde o começo
o que fazia quando chorava
todas as xícaras quebradas
e ideais jogados no tempo
quantas vezes ligou à noite
quanto tempo apostou em nada?

mas sempre foi o ritmo das estocadas
que ditava o pulsar das veias
pequenas faíscas
virando incêndios incontroláveis
e é aí que o dilema habita
na forma voraz de consumo

e ainda ressoa a velha pergunta
“o que quer de mim, baby?”
então, a velha pergunta
“o que quer de mim, baby?

pois querem o que não
poderia ser sugado
por nenhuma língua
é mais que isso
é desejar em segredo
a pior dor que se pode causar

desmancha a costura
o homem fora de sincronia
sem eixo e queimando
em seu próprio jogo
tentando achar outro tipo
de ligação interna


*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem e me apresentar Isidore Ducasse





sexta-feira, 22 de março de 2013

ode ao não (da série ecos de Maldoror)*




quem me dera ter as palavras certas
para retratar esse ser aturdido
dono do ego magoado que marca
os cantos alheios

poderia sonhar a esperança
mansa de liberdade
não, não mesmo
jaz aqui qualquer cegueira

peço que não blasfeme a realidade
ou a pontue com mesmices amadoras
ou coloque em minha pele
ignorâncias amenas e gentis

houve o momento para a ilusão maior
hoje ela titubeia como as luzes dessas velas
acesas, quentes, mas ao mesmo tão inocentes
diante da vasta sombra universal

essa que equilibra a dicotomia
dos sonetos móveis e patéticos
das paixões que sangram
do movimento vão de viver

vejo claramente seus lábios delineados da negrura
como se tivesse beijado de língua o infinito
enquanto o desespero enrabava meus sonhos

agora o estar se desespera
sob as lentes escuras
que refletem a incógnita ironia
nesse estado de fato febril

sim, dessas mãos só espero o tapa
a punhalada e o soco
em suma, a traição
pois a carícia real é a que causa dor

e esse transpirar ocre quase esverdeado
é o que nos benze de sanidade
abra bem os sentires e aceite
que o olho esquerdo
é o que move a redenção





*agradecimento especial a Fransérgio Araújo, por ceder sua imagem, inspirar o poema e me apresentar Isidore Ducasse